sábado, 23 de julho de 2011

Sabemos demais!

Os tempos decorrem, assim se diz, mudam-se. As vontades estão diferentes. Sim, sabemos demais.
Sociedades de informação transmitem ao mais distraído a forma de estar. Como que chips de um qualquer iPad absorvemos a normalidade anormal de quem sabe reagir. Reagimos ao acto da mesma forma como nos é apresentado pela caixa mágica, passamos a ser actores e actrizes dos filmes das nossas vidas. Já nada é inconsciente! Julgamos os outros com exemplos anteriores, conhecidos. Quais robôs amestrados pela evolução...
Passou a faltar-nos verdade. Se olho para ti, quero-te...nem que não te queira. Se olhas para outro, tenho de mudar de humor...mesmo que não me importe. Porque é assim que deve ser. Se agora sorriste, tenho de analisar...porque não confio. Não confias e por isso tens de reagir segundo manuais experimentados. E as situações repetem-se; entre ti e aquele, entre aquele e aquela, entre nós e os outros. Já nada difere...porque passámos a autómatos. Sabemos demais.
Que é feito de amores únicos? Aquelas histórias diferentes, aquelas surpresas divinas que nos faziam sonhar.
As conversas, hoje, têm um fundo corrente, presente em todas. "Foi exactamente isso que me aconteceu", "Também já passei por isso", "Sei bem do que falas". Parece que vivemos todos tudo o que os demais viveram... Grandes amores, grandes males, grande aventuras, grandes desilusões. E então faço o que fizeste, digo o que disseste, não penso por mim.
Riem-se aqueles e aquelas que se acham únicos. Mas mesmo esses e essas padecem do conhecimento de tudo. Também eles e elas formatam as atitudes mediante o jogo. Que faço agora? Ah, é assim que se faz, a minha vida dava um filme...e porque o actor assim o disse, também o direi. Há exemplos de TUDO nos outros! Como tal, assim farei, assim faço, assim fiz.
Sabemos demais! Chegamos ao fim da vida e olhamos para trás, quem somos? O que fizemos? Tudo! Porque vivemos a vida com cópias uns dos outros...também eu!
Cansei-me do jogo! Quero ser surpreendido e surpreender. Não quero contar com o que vou fazer, muito menos com o que vais fazer. Não quero saber! Sonho em ser original...sem saber que também o serás!
Quero reagir como ninguém o fez. Quero ficar no meio da ponte, sem saber de onde vens. Quero sonhar com momentos estranhos aos quais não sei reagir, quero voar apesar de asas não ter. É assim tão difícil? Cala-te quando acho que vais falar. Canta quando estiveres para chorar. Ri alto quando for altura de silenciares a tua voz. Estou tão farto de saber demais.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Uma história sem princípio

Possam as aves levantar dos campos junto ao lago, onde corro sem parar. Movam-se as nuvens bem depressa e deixem passar a luz do sol que me afaga a face. Para cima olho e de expressão serrada sorrio ao ar que me aquece as mãos enquanto festejo a subida da colina. Cheguei! Deixem passar o sonho...
Abram-se as alas ao navio que chega ao porto e com ondas leves anuncia vidas vividas. Faça-se o silêncio porque há quem as queira contar.
Era uma vez uma história...uma história com histórias, de viagens longínquas. corridas sem fim. Ao fundo as memórias dos toques profanos de mãos apaixonadas e lábios redondos. Sons arcaicos ondulam pelas mentes de quem a conta...a história.
Procurava uma concha, de pés na água quente de um rio. Mas as conchas no mar viviam e ao rio não iam com medo do fim. Por isso procurei respostas no fundo dos tempos, por caminhos incompletos sem nada para dar. Inundei planícies com ondas de areia sem saber de nada...mesmo de nada.
Então parei e respirei. Não mais... Formam-se fumos coloridos em vasos de lama, quais águas cristalinas em tempos de chuva. E com tais pensamentos atravesso vidas, desperdiço canções, abraço errantes.
Oh que paixão desmedida me faz aprender... Perder...
Decidi então terminar, como que te abraçar...pela última vez.
Outros navios hão-de chegar e em portos distantes se ouvirão as vozes; os sons do tempo que passou, do amor que cedeu e nas colinas correu...