quarta-feira, 26 de junho de 2013

Saudade(s)






Viajava ao fim do mundo,
gritaria às nuvens altas.
Contaria as minhas faltas
e o que vai aqui bem fundo.

Sinto falta da calçada,
das paredes encolhidas,
dos amores e das comidas.
De cantar a uma amada.

De dançar pela calada,
ao som da voz sumida
pelo excesso de bebida.
E de não saber de nada...

Recordam-me momentos.
Cativam-me as cativas
e são doces salivas,
com mãos de beijos lentos.

Voltar a "casa" minha.
Correr pela cidade,
sem nenhuma saudade.
 E caminhar por esta linha...




sábado, 22 de junho de 2013

...e aos quadradinhos também se vive.

A verdade é que já não me lembro da última vez que escrevi uma página original, parecem-me todas iguais. Não porque usam as mesmas palavras, nem as mesmas canções. Não, nada disso, parecem-me iguais...iguaizinhas, quais gémeos vestidos a rigor. O sol nasce em cada dia, no mesmo ponto, no mesmo minuto, com as mesmas esperanças e os mesmos medos. E à noite, quando o breu se espalha pela minha existência e desmaio entre lençóis, o resultado é um espelho de tantos momentos, como que iguais.
Parecem espaços vazios na minha história...literalmente vazios.
Lembrem-se de mim, contam os mais profundos desejos do homem. Lembrem-se de mim. Contem histórias a meu respeito! Porque já fui rei, já lutei contra exércitos e não olhei para trás. No topo da montanha já ergui bandeiras e toquei trompetes que anunciavam vitórias...tantas.
Caramba! O  fumos da cidade acordada já me afagaram os passos, enquanto de laço dançava uma valsa ao som daquele violino, frente ao teatro onde os tenores cantam tristezas. Meu antigo amor...presente vazio, também tu. Lembras-te? E em areias saltitantes à passagem dos peixes maus, viram-me sentado à sombra de  uma folha de palmeira, segura pelas mãos de um selvagem.
Agora não. Acordo de olhos fechados, à procura de mais um sonho. Divirto-me com colegas de carteira, de outras escolas, de outras vidas...são minhas testemunhas de minutos sem quê. Parecem-me vultos de dedos acusadores. E o brilho, bolas! O brilho que reclamam de mim, porque sim! Ou porque não! O Tio que virou Principesco porque na praia cantou. A revelação daquela praia, daquela aventura.
Mas a mim...quem me explica a falta de originalidade deste homem desabrigado? Sim, porque se abrigados fossem os seus dias nada mais queria de si. Mas ainda quer o Mundo! Sem saber como ou porquê. Ai está!
Esqueci-me dos invernos de outros tempos, aliás, esqueço-me rapidamente, facilmente até, que a escuridão já foi fiel amiga. E que sou normal, Ui! Isso não, ou até sim, porque não? Talvez...não! Decididamente e outros tantos 'mentes, ainda cresço ao segundo! Tipo aqueles miúdos que escolhem os cadernos no hipermercado para o primeiro dia de aulas! Assumo-o. Então tudo parece florir. Não é fácil.
Alguém escreveu um dia uma canção que canta sobre promessas vãs. E reclama que o avisam que o brilho desvanecesse, que a idade trás a calma do espírito e que as cores acinzentam a vida. Mas não acredita. Porque tal como ao Vinho do Porto, minha cidade e meu canto de fuga aparente, o tempo não acusa velhice. E a criança não vai deixar de correr. Mas somos tão poucos, Porra! Tão poucos! Saudosismos à parte...o levantar do avião ainda me faz sorrir. O azul das cadeiras de veludo ainda me parece luxo e os olhos de uma mulher são símbolo de beleza, única e transparente.




sábado, 1 de junho de 2013

O (meu) Caos



Alguns de nós sentem a brisa de um mar longínquo  Batente de esporas gastas nas costas queimadas. O som triste de um violoncelo que arbitrariamente toca sons de vários tons. E inspiramos calmamente aquela maresia. Que dias quentes.
E lá fora vejo as árvores de um verde apagado. Quero contar. Gostava de o saber fazer. Somos seres de histórias falsas ou verdadeiras e queremos dizê-las. Mas sentimos mais que simples palavras... Era uma vez eu, aquele que grita sem se ouvir. Os troncos desta floresta já cá andam há muito...e também eu.
Mas dizer o quê? Que sou feliz? Mentiras graves encontram-se por aí.
Há quem seja esmagado, apertado, malfadado por este mundo. Paredes que se estreitam à sua passagem. E ali morrem embriagados, pelas drogas que ofuscam a aflição. De músculos trabalhados pela força da pressão, gritam bem alto que querem conhecer a liberdade. Mas quem os ouve?
O caos. Cadeiras caídas pelo jardim e um pátrio abandonado às folhas da escola, rasgadas, escritas pelos que ali se sentam. O Caos. Mundo perfeito aos olhos dos incultos. Pensar? De braços abertos apreende-se a vida, aliás,deixa-se passá-la.
Outros em cantos ocultos adormecem a alegria. Revoltam-se e de escuro vagueiam sem querer aparecer. São vidrados na morte, porque a vida é incolor...aos seus passos.
Eu? Eu não. O caos, prazer deslumbrante de quem  quer mais. As paredes a mim não me querem. Afastam-se devagar quando caminho, vagueio. E as árvores abrem os ramos para o sol entrar. E mais, mais, muito mais. Este pedaço redondo não parece chegar, mas o universo tem a cor errada...devia ser azul.
Vejo tanto. Suspiros profundos acompanham-me a cada mergulho. Sem esforço derroto as sensações assombradas.O que são elas para mim, afinal? A liberdade do indivíduo é aterradora, porque o sonho deixa de o ser e a realidade, essa, afaga os cabelos desgrenhados deste vagabundo.
Vagabundo...que nome patético mas eficaz. Vagabundo, pelo caos que assusta os outros. Não vejo estrelas. Já as vi e nelas acreditei, mas mais não. A escuridão que as realça deixou de atormentar os desejos de quem não lhes toca. Procurar uma, em especial. Uma estrela vagabunda. Porque não? Mas elas são-me impunes pela sua própria condição. O sol já pertence a todos, qual prostituta fácil e sazonal.
O caos. Capacidade voluntária da sociedade moderna, onde vivo, onde pertenço aos poucos. Sou actor de novelas dramáticas e rio às gargalhadas quando a câmara me foca. E não compreendem que o faço porque posso! Porque o meu jardim já ardeu e o que havia a perder ficou em cinzas. Cinzentas estrofes em fila indiana pelos meus anos, tantos. O caos, dá-me vontade de rir. Não é meu...só o acendo ao abrir a janela dos meus olhos.
Por vezes encontro-me só. Tudo é escuro e a mais ténue abertura no telhado deixa escapar a imagem. Há estrelas la fora, afinal...e algumas brilham incandescentes ao meu olhar. Sem memórias, catapulto vontades de voar...outra vez. E por momentos, dias, levanto os desejos ao altar como quem corre por gosto...hábito malfadado dos heróis. A esperança ofusca o passado e pelo cimento destas estradas entrego-me ao querer. Porque não? Arranco os sorrisos que me perseguem e atiro-me com todas as forças ao céu...quero tocar-lhe, tocar-lhes, escolher, decidir, afrontar, amar... Uma, ou outra, ou ainda outra. Sorriem-me de volta, as estrelas brilhantes, como quem verdadeiramente gosta deste jogo. O gato persegue-as como luzes inquietas numa parede tão escura, de olhos arregalados e expressão carregada. Quero uma...uma só!
Mas o meu brilho destrói os seus interesses. É demais, quem quer ser rainha de um imperador que só deseja rir e brilhar? Quais interesses mentirosos de quem só sabe ser feliz...e fazer feliz. Repetidamente, fortemente, alegremente... Isso não! Viver com luz eterna? Nunca! E então desvanecem o brilho e escondem-se atrás da escuridão de quem não brilha. Hábitos estranhos, loucos até... Ou então não brilham e querem brilhar! Roubar o brilho de quem com ele nasceu! E aí batem com força no vulto sorridente, inerte, cujo brilho não podem furtar, porque já houve quem o fizesse. Esse agora brilha sozinho e brilhará.
Então adormeço em descanso e acordo de novo...já é dia. E as estrelas partiram de novo...e o sol brilha, outra vez. Para sempre, no caos perfeito de quem sorri de olhos bem abertos. O caos, meu companheiro eterno, minha calma vagabunda, meu aspecto, meu dia alegrado ao som de gargalhadas...porque sim!