segunda-feira, 28 de outubro de 2013

As almas dos outros



Ao virar da esquina, os outros tomam caminhos...os seus caminhos, não esperam. Têm desejos próprios e almas carregadas. Não esperam por nós. ...e aprender isso, dói. Porque cada um de nós valida em si a esperança do tempo.
Então achamos que o temos, o tempo. Esperança moída por desajustes intemporais. Factos revoltados com segundos confusos, mesmo que lúcidos naqueles momentos. Depois, perdem-se razões...porque os outros não esperam. Nem têm de esperar.
Vamos de encontro a uma parede, já dura e seca, pintada por decisões que nos ultrapassam, de outrem. Não esperarm que ganhassemos aquela clarividência astuta, que nos faria pintores daquele destino, também. Usam um martelos que tantas têm, para desenhar um portão ao lado e daí passar para um jardim já jardinado, de um vizinho atento...apicultor...que não se pica nos ferrões de um passado qualquer.
Boquiabertos encolhemos os ombros e aceitamos que eternizar sentimentos não é para todos, até porque está fora de moda...ou estava, já não sei.
Fazemos de conta que entendemos, até porque ser livre dá trabalho, responsabilidade, solidão e confusão. Corta mesmo a respiração. Então...porque não avançar depressa? Mais depressa que o nascer no sol de quem queríamos! Isso...até porque a vida é curta. E fazem-se felizes, assim...é mais simples que compreender os medos dos outros... Então arrisca-se a "felicidade". Aquela que pensam querer e...até querem.
E o que resta para Nós...ilusão desmedida. Felicidade tardia...ou mesmo perdida, mas mesmo assim uma vida.
E as nossas almas são assim. As almas dos outros não.





domingo, 6 de outubro de 2013

O meu maior presente...

E hoje, só porque sim, apeteceu-me mostrar-vos que, afinal, sou um sonhador. Acredito em tanta coisa! Mesmo! ...e ainda assim sei que estou errado. Ou antes...não. Mas que devia ser diferente, mais racional ou...não, também não é essa a palavra...mais Normal. Sim, normal. Até porque hoje ser normal dá jeito. Ser banal, casual, básico, entorpecido sei lá. Porque tudo o que é exagero passou a ser mau. Chama demasiado à atenção. 

Mas não consigo, desculpem. Nem quero...apesar de saber que estou errado. E depois...depois já não conta se estou como estou, se sou como sou, porque assim sou... E não vou mudar de face, nem vou amar diferente.

Correndo o risco de parafrasear canções, aqui vos digo que não, não sou o único. Há quem ame como eu e não se deixe apanhar pela nostalgia da normalidade... e deixam-me agoniado os que se entregam à insustentável leveza de não ser livre.

E a responsabilidade de ser livre é a mais pesada. Porque quando beijo atravesso paredes e subo acima das nuvens. Voo com águias e subo montanhas...dou a volta ao mundo e mergulho em corais. Só isso, afinal.

Então aqui vos deixo um pouco de mim, das minhas crenças, dos meus medos e tropeços. Até porque há quem o veja...como eu. Em dois textos, não meus...porque tantas vezes não o sei dizer. 

Aqui vai um deles, não o mas um meu texto favorito:

http://yourouterspace.blogspot.com/2013/10/elogio-ao-amor-por-miguel-esteves.html


E sim, também sei que quando amar de novo, para ela, serei assim:

Uma tradução de: Il Regalo Più Grande - Tiziano Ferro

O meu maior presente

Quero dar-te um presente
Uma coisa doce
Uma coisa rara
Não um presente comum
daqueles que se perdem
nunca aberto
deixado no comboio
ou nunca aceite
Daqueles que abres e choras
que ficas feliz e não finges
Neste dia de meio Setembro
Dedicar-te-ei
o meu maior presente 

Queria dar o teu sorriso à lua para que
De noite quem olhar para ela possa pensar em ti
Para recordar-te que o meu amor é importante
Que não importa o que dizem as gentes porque
tu me protegeste com os teus ciúmes e ainda que
por muito cansado, o teu sorriso não ia embora
E tenho de partir mas sei-o no coração que
a tua presença será sempre uma chegada
e nunca uma partida
O meu maior presente

Queria que me desses um presente
Um sonho não expressado
Dar-mo-ias agora
Daqueles que não sei abrir
Em frente aos outros
Porque o maior presente
É nosso para sempre

E se chegasse agora o fim
Que fosse borratado
Não por quereres odiar-me
Mas só por quereres voar
E se te nega tudo, esta extrema agonia
E se te nega também a vida, respira a minha
E estava atento a não amar antes de te encontrar
E confundia a minha vida com aquela dos outros
Não vou fazer-me mais mal agora.
Amor...
Amor...

E depois..
Amor dado, amor tido, amor nunca visto
Amor grande como o tempo que não desistiu
Amor que me fala com os teus olhos à frente
És tu, és tu, és tu, és tu, és tu, és tu, és tu, és tu
O meu maior presente


Elogio ao amor por Miguel Esteves Cardoso

Quero fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.

Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há!

Estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "Tá! Tudo bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, banalidades, borra-botas, matadores do romance, romanticidas.Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo? O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina.O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não dá para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser.O amor é uma coisa, a vida é outra.

A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos.A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também.