quarta-feira, 27 de março de 2013

...e com isto vou aprendendo!


segunda-feira, 25 de março de 2013

O outro lado do búzio - Capítulo I


ATÉ UM DIA

De olhos cansados, o velho contava a história. Era um senhor alto, cabelo todo branco já afectado por uma calvice precoce mas que teimava em não ceder. Vestia um colete beije de lã, por cima de uma camisa branca de colarinhos bem engomados pela Deolinda, sua actual companheira de limpezas. Uma mulher delicada, magra e ternurenta, que às segundas e quintas aparecia por umas horas em busca de uns quantos dinheiros, em troca de uma cozinha asseada, colarinhos tratados e dois dedos de conversa.  Qual jogo de cartas de um só naipe, bem se lembrava da sua empregada favorita, muitos anos antes, com o mesmo nome.
Estranhos eventos repetitivos até nos mais leves pormenores.
Olhando pela janela para o brando frio que se fazia sentir, era Novembro no hemisfério Norte, o velho respirava calmamente, deleitado na sua poltrona usada, companheira de leituras e algumas aventuras. Com uma voz suave, algo sumida, recordava momentos. Sim, é isso. Momentos verdadeiros das suas passagens por ali e por aqui. Por aí.
Com alguma emoção contava as histórias. Para quem ali estava, de braços e abraços, junto à lareira da casa nova. E chamava-lhe nova porque todos os anos esta mudava. As paredes, os cortinados, os quadros nas vastas paredes, até a disposição das mobílias. Era assim há tantos anos, que parecia nova. Os parentes mais novos chamavam-lhe, a título de brincadeira, a quinta-dimensão. Pudera, a cada Natal a visão mudava, pareciam estar em diferentes países. Por muito que tentassem subornar a Deolinda, nem esta contava os segredos desse ano. E depois as histórias. Essas, ainda que verdadeiras, pareciam saídas de um filme. Quem viu o Big Fish, com o grande Albert Finney, sabe do que falamos.
Era uma vez um miúdo, começou o velho nesse dia a contar. De caracóis desgrenhados e pele morena, o miúdo expressava um olhar inconstante. Dir-se-ia que sabia alguma coisa, talvez tivesse aprendido cedo demais, quem sabe. Ou então parava no tempo, afinal, para quê crescer? O miúdo parecia saber que os adultos tinham razão. Sim, quando somos miúdos temos momentos de grande felicidade! Completa, despreocupada, sorridente, felicidade e liberdade para a sentir. Temos um só coração, para sentir o que se passa. Mas os adultos, parecem ter dois mais pequenos, saídos de duas metades de um maior que se partiu.
Estava um dia solarengo e a paisagem era de um Outono colorido. Ali, as árvores pintavam o céu de castanho, amarelo e algum vermelho. Era uma terra inclinada, cheia de verdes organizados e casas de madeira. O miúdo, de sweatshirt amarela e umas calças de fazenda aos quadrados, caracóis despenteados e olhar distante, fixava-se na viatura azulada que se preparava para partir.
Podemos pensar que é uma história triste, até. Mas não, o velho sorria apesar da pequena lágrima pousada no olho esquerdo, no fundo é uma história bem feliz.
O carro azul partia com uma família simpática, pai, mãe e um casal de filhos. Ela, mais nova que o miúdo, de feições organizadas, parecia saída de um desenho animado. Era bonita, pensava o miúdo, muito bonita. Ainda hoje é, apesar da idade, pensava o velho. O seu irmão era um rapaz sardento, tímido e de pele muito branca. Naquela altura diziam-se os melhores amigos, o miúdo e aquele jovem de nome Duarte. Sim, estudavam juntos na primária e desde o ano anterior durante a segunda classe, tinham passado a andar sempre juntos. A família do Duarte ia passar uns dias à aldeia de um dos pais, não se sabe bem qual. Saiam no BMW azulado dos pais, carregado de malas e com aquela família, completa. O miúdo, de braços levantados reclamava um curto adeus, até segunda. Vocês vão, eu fico. A minha família, este ano, fica.
De olhos no horizonte, o miúdo via o BMW azulado a desaparecer. Logo depois saia a correr pela rua abaixo em direcção a casa.
Pelo caminho pensava. O miúdo recordava que pouco tempo antes, também ele tinha uma completa. Uma família, isto é. Coisas da vida, habituou-se a dizer. Nunca se rendeu à eterna pergunta - Porquê eu? - não, haveria razões. E de sorriso estendido corria para quem lhe restava. Afinal, após a partida Dela aprendeu que tudo continuava, ainda que diferente, mas continuava. Ela ensinou-lhe que não é adeus, mas até um dia.

(continua)



terça-feira, 19 de março de 2013

Marcas de água




Parte II

E se algum de nós soubesse o que aquela rua traz, não se cometiam tantas fealdades, tais crimes reportados por livros vazios. Oh espaço meu, que me arrebatas com sonhos tremendos. Já não me lembro de confiar. E porquê? Os presentes agem como no passado e os passados atiram-se ao presente com a mesma força, com a mesma incerteza, com a mesma traição!
E dizem que não! Criticando os passados, as passadas, vá! Tão tristes personagens que não vagueiam que não em memórias...afogadas.
E de um vermelho acinzentado, as marcas de água nas mãos dos lesados, ali permanecem!...e ainda perguntam porquê! Ainda reclamam terceiros e terceiras por acções despegadas...como? Terá tal ira vontade de no nevoeiro se ir? Não! Há, sim, que defender o castelo, porque os buracos das bombas lançadas por catapultas venenosas, ainda ali estão...de pedras caídas nos carros de feno...onde outrora se deliciavam os unicórnios da fé.
Eis aquela rua, tão cheia de esperanças, tão cheia de verão...para quem quiser. 
Espera-se pouco. Espero por nuvens carregadas de noção...aquela noção de liberdade nervosa, as dos crentes, sabes?
Então espera-se pouco, recusa-se nada...o que interessa é estar...

sábado, 16 de março de 2013

Marcas de água



PARTE I

Outro dia passei nesta rua. Uma rua larga, cheia de vida. As portas das casas entreabertas e um aroma a chocolate quente. As flores penduradas nas janelas dos alpendres faziam lembrar um quadro de Monet. As velhas, essas, bailavam de braços pela cintura, agora para a esquerda, agora à direita, como se ali ninguém passasse. Em cada homem, como que num sonho cinza escuro, notava-se a alegria escondida dos mineiros, quando chegam à superfície. As crianças não corriam, pareciam estafadas, ainda que coloridas a lápis. Oh, o céu...manto azulado num fundo branco de nuvens de algodão. 
A calçada era escarlate, com pétalas de tulipas espalhadas por pássaros rasantes...quais andorinhas fora de época, porque o tempo era fresco...estava fresco. 
Do meio da rua ouviam-se palmas. Passava ali uma noiva, vestida de verde, um verde claro que destoava da paisagem, com o noivo firmemente agarrado aos portões da entrada. Do lado de lá chovia...do lado de fora, mas ali não. 
Por isso ali passeava, eu. De negro vestido e laço apertado...ou seria um traço negro do pescoço até ao cinto? Já não me lembro. Mas ali andei, de olhos abertos, fixo naquele desenho colorido. Afinal, lá fora chovia...mas ali não.
Nada faltava,nem sequer razões. Nada que fizesse pensar que, umas luas mais tarde, pudesse ali chover. Naquela rua solarenga, feita à medida de uns sonhos do vagabundo contador de histórias. 
À entrada lia-se, numa placa elevada, Alameda da Fonte que Seca. Fazia sentido! Lá fora, fora da rua, o vento atirava a chuva de uns telhados para uns alpendres. Violentamente molhava cada vulto que, bem no fundo, passava a correr como quem foge dos lobos. Ali, na rua das cores, o sol parecia não mexer, nem com a sombra das horas, nem com a força da noite! 
Às vezes, penso que a sorte foi culpada de, um dia, ali ter entrado. Outras vezes, que num dia perdido, sem eira nem beira, saí a correr de sapatos trocados e contra todos os sentidos deixei-me levar. Sim, é isso, estava cansado e deixei-me levar. 
Hoje? Nesta rua há poças de vinho, sapos embriagados e mulheres de mãos na cabeça. Os homens atravessam os passeios de chapéu de chuva e as crianças vestem gabardinas. Ali choveu. Os portões, escancarados, prendem as plantas que restam contra os muros. Vê-se bem que ali ficaram, presas, na debandada. A frescura perdida deu lugar a um bafo doce, um fumo húmido enche suavemente os pulmões de quem ali respira. 
De mãos nos bolsos ali caminho. Escondo as marcas de água do meu desenho...esborratado, de um vermelho acinzentado...

sexta-feira, 15 de março de 2013

As certezas dos demais



É verdade não escolhida, as certezas dos demais. Flecha de uma montanha lançada, alvo certo e camambuzio. Fumo de um tabaco de sabores. A certeza dos demais. Verdade inconcebível, incontrolável, a dos demais...deles e delas, dos que não querem ou (des)querem, dos que...sentem?
O Poder das rosas, de uma decisão espontânea, ou de um facto de fé. A certeza das vontades, completa no segundo, porque o primeiro está só!...e como fazem os perdidos? Ah, sobrevivem na esperança de "lá chegar!"...tipo, senhores e senhoras, bem-vindos ao aeroporto de Buenos Aires...bom tempo, calor! Todos queremos...não?
Pois, o som de um búzio desperta o mar, desconhecido, de todos nós. Do lado de lá está a imaginação e de avião, como quem chega ao paraíso, contam-se histórias!...aos outros...fui tão feliz. Ainda que por pouco tempo, fui feliz...ali. Agora?...http://yourouterspace.blogspot.com/2011/02/porque-foi-que-tudo-mudou.html
Mas também sei que tais palavras, odiadas, despertam horrores dos sonhadores, bem sei. Os sonhos comandam a vida...frase capitalmente endurecida, pois sim, a mais pura das verdades! Até porque o tempo passou a ser menosprezado, tudo acontece à velocidade da vontade...tudo é fácil, ou, afinal, não é...não vale! Certamente!
Para quê esperar? Tudo é tão simples...afinal. Créditos na sombra das vontades trazem respostas! Porque se eu quero, agora, basta justificar! Oh, que certezas...dos demais! ...e se amanhã não, outros créditos virão. Violência atrevida dos que não pensam em nada...fácil, afinal! E quando terminar? ...logo se vê! Não pensemos nisso!
 Dançar ao som de um tango passou a ser comum. Até porque são de músicas longas...e isso é viver, dizem os demais. Aos 21 minutos troca-se! De música...ou até de parceiros, sei lá. Ou não. Fecha-se os olhos e logo se vê!
A praia é para ser vivida...e por isso para lá corremos, todos, por um lugar ao sol!...mas as fotos douradas, arrebatadas, sonhadoras, confiadas, espelham areias desertas, onde silenciosamente, passeamos unos, sós! De braços abertos colhemos luzes foscas! Repletas de paraísos terrestres...Olhem!!!...para mim, ali, ao som de um saxofone solitário. Olhem! Que linda figura, tão simples! EU! ...sem certezas, de mim próprio, dos demais...
Mas o sonho, esse, é levar-te ali! Onde caminho só, uno. Um lugar tão meu...Mas tão meu, que partilhá-lo fundamenta a espera, o aguardo, a certeza de um só, não dos demais. 
Mas a paciência desespera! O tempo leva tempo...e quem somos nós para acrescentar...a vida é curta, há que aceitar...a certeza dos demais! Certo?



quinta-feira, 7 de março de 2013

Friends & Lovers



É...verdade que sou assim!
E sabem que mais? Gosto!
Não estou cá para os outros...
já estive.
E se me virem por aí,
de braço dado ao pôr do sol
levem convosco os pensamentos
porque as nuvens são minhas
o tempo pertence-me
e dele faço o que quero.
Que querem saber?
Se sou um só?
Comprem cadeiras e atirem-nas ao chão!
Depois sentem-se nelas...
têm muito que ouvir.
Então assim começou...e acabou!
Gostem das vossas vidas
e deixem as dos outros.
Abracem os vossos amores,
comprem flores e espalhem-nas nos vossos caminhos.
Não, não é mas...
e se fosse? Cabe-me a mim sonhar!
Decidir e relembrar.
A diferença entre os amigos e os amantes...qual é?
É que uns sabem de si...e os outros conhecem...
Oh, feliz coincidência acordar acompanhado,
também aqui dormiste?
E que viste?
- Diz antes, o que fiz...
Sorrisos escaldantes sem interesse.
Que vantagem encontrar alguém assim.
É tão melhor, tão mais simples.
E a fazer o pino encontra-se paz!
De costas voltadas, qual intimidade azul.
De peitos esmagados, e ventres apertados.
Uff...e sorrisos bonitos.
Assim, sim! Fica a vida importante.
Não se dividem tristezas, dá-se apenas a mão,
dá-se apenas o ombro,
afagam-se peles sofridas.
Com a força de quem, deveras gosta e aprecia...
...sem cobrar...sem esperar.
Livre.