Um dia de calor, abafado e sem aquele vento necessário ao abanar das saias das beldades que por ali passam. Cada parede esbranquiçada é palco de encostos vagabundos, suados e (des)aperaltados, ao som de batuques e guitarras tropicais. O som é sensual e convida à perda das já poucas indumentárias de um verão eterno. Mas os corpos afastam-se com este calor, digo eu.
Perto do sol alto, as ruas de paralelos mal amanhados ficam vazias. O som, esse, é continuo e a falta de vento deixa-o cair pela calçada, ecoando graves batidas, quentes, ritmadas. Adoro passear por ali, nesses poucos momentos de quase nenhuma, agitação. Olho para cada esquina, cada vão de escadas e imagino peças femininas deste puzzle, para ali deixadas. Gosto de pensar nas saias curtas e folhadas da noite, que sensação vê-las de dia, neste aquário sem água, aquecido pelo mais quente dos sóis.
Na pequena esplanada ali perto, ouvem-se gargalhadas por entre as notas desta música contínua. São os mais velhos que de mãos pousadas nos dados, reclamam vitórias e derrotas contra as cartas. Reis, Damas, Valetes, tudo vale. Até os cães vadios apanham as poucas sombras por debaixo das mesas deste jogo forçado. São espectadores simples que não recusam cada migalha involuntariamente despejada dos gritos dos jogadores.
No andar de cima deste café vivem as voluntárias. Seres adorados, adoráveis, quentes e meigos. Adoro este nome, ou alcunha, as "voluntárias"..que de cabelos apanhados variam por entre as ruas deste posto. Caminham em saltos como se os paralelos fossem lisos, quais chãos milionários de mármores importadas. E ali andam, vistosas, voluntariosas, amorosas, a ajudar quem quer amar. Doces figuras vestidas de branco por causa do sol e peles morenas, banhadas de um suor perfumado.
Sento-me num degrau desta casa, de pernas estendidas para aquela rua. Sujo as calças brancas que visto, não porque gosto, mas porque sim! Porque quero misturar-me entre a multidão. Sou de fora mas por aqui passo momentos. Puxo de um cigarro, apesar do calor, e delicio-me com sorrisos, os meus, de cabeça tombada...observo.
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