Quero contar o que vejo mas as palavras escapam como gotas na chuva. Vi uma gaivota desaparecer no pôr-do-sol, uma aldeia sucumbir às chamas enquanto corria. Vi alegria nos tristes e desespero nos felizes. Aceito perder para ver viver...
Queria falar dos sentimentos que conheci e os quais senti no momento, mas fico sem voz ao recordar. Por isso olho para as memórias com carinho e a elas dou mimo numa solidão envolvente que me pertence, só a mim. Fui eu...
Conto a quem me quer ouvir, que sou feliz. Tenho comigo a felicidade de saber quem sou, onde estive e como pensei, evoluí. Adormecem-me os dedos quando com esforço recordo o que vi...tanto. Dei saltos sobre lagos à chuva e sentindo-a, ri alto. Acordei numa praia deserta com gotas de suor no pescoço e um vulto a meu lado. Olhei para o céu estrelado no meio do oceano e contei estrelas cadentes. Oh como seria feliz se desenhasse as caras que me rodeiam.
Grito ao som do silêncio que estou pronto...mas ele não responde. Talvez porque me quer lembrar que as memórias não têm som, qual cinema de Charlie Chaplin. E ao silêncio aceno com carinho porque, quem sabe, ele compreende-me.
Vi amores verdadeiros e com eles sonhei. Vi sofrimentos de quem apenas respira, de quem não merece e de quem atirou a primeira pedra. Vi felicidades estampadas em peles morenas, quais tatuagens sem sentido. Vi olhares de orgulho ferido e outros que amavam só porque sim. Vi-te ver-me e eu a ti...
Vi estradas sem fim, as quais conduzi sem parar. Vi destinos chegarem perto e neles toquei. Viajei por tempos que pareciam eternizar os segundos em que nada procuro, apenas por ali passar. Oh certezas incertas, que bom viver-vos porque me sinto acordar.
(...) ...queria dizer mais, muito mais....mas quando as palavras faltam, o silêncio da voz criou sons perfeitos que me adormecem os dedos, me fecham os olhos e me fazem sonhar...
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