Dou comigo várias vezes a pensar no passar do tempo! Nada de especial, apenas no que se fez, faz e fará.
Criamos oportunidades, perdemos outras e levamos um carrinho de compras à frente, o qual enchemos de experiências...memórias passadas, presentes e futuras.
Sou, entre outras coisas, professor e aluno! ...e como tal conheço pessoas. Ouço-as, observo-as e com elas aprendo a viver. Ou antes..."desaprendo"! Ok, posso estar errado mas...não me parece. Rendem-se às evidências e aceitam-nas como se...nada...mesmo nada.
É com algum espanto que recordo memórias antigas de alguém que me é próximo...eu. Como vivi, senti e apreciei tomar decisões que me pareciam certas, pelo menos as mais certas...na altura.
Hoje, agora, recuso a palavra "normal". Mete-me medo, assusta-me, arrepia-me o centro nevrálgico. Essa sensação "bem disposta" que nos faz sentir banais...parte de um todo que se rendeu à normalidade...àquilo que passou a fazer parte da vida de todos! Não! Não posso...e por isso estou no inverno do meu descontentamento.
Passo a explicar...
Faço por não deixar passar o tempo e, para tal, sinto-o, absorvo-o, dou-lhe valor e sentido, não o deixo escapar...
Para a maioria ele (o tempo) chega, cumprimenta, dá dois passos de dança e desaparece. Nem dão por ele! Mais tarde olham para trás e assustam-se...já passou...quando?
Eu? Gosto de o ver passar, observo-o e com ele converso. Aprendo! Vivo! Como? ...vivo duas, três, quatro (ou mais) vezes! Reúno...ou antes...colecciono partículas de tempo. Depois junto-as e com elas brinco, qual jogo de Legos!
Com este jogo deixo de parte tudo o que é "normal"; O que não se sente verdadeiramente, o que no final do dia não tem relevância, tipo...respirar. O resto...aqueles momentos em que virámos à esquerda quando podíamos ter virado à direita...tudo isso conta! Passo a ver cada partícula como...especial. Momentos em que estamos vivos e tomamos decisões. Em que tudo acontece!
Uma velha senhora que alimentava as pombas na praça, um polícia que corria para apanhar o autocarro, a mulher que passou e sorriu ao ver-me de olhos bem abertos, o telemóvel que tocou no momento exacto em que o deixava cair...tudo isso conta. E à noite tudo isso revejo...e com isso aprendo, e com isso vivo a dobrar. Cada partícula de cada momento é vivida e...revivida.
Ouço-te e penso no que me disseste. Aí sinto-te perto.
E, por isso, estou no inverno do meu descontentamento. Sim! Verdade! Porque adoro viver! E adorar viver requer que tudo valha a pena... Eis, aqui o meu inverno...se não valer a pena, para quê vivê-lo a dobrar? Assim...não quero amar sem ser loucamente, não quero rir senão às gargalhadas, recuso viajar se não for para longe, chorar se não com a maior dor, beijar só por beijar, não...isso não!
E porque colecciono partículas de tempo...vivo a dobrar!
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