quinta-feira, 26 de junho de 2014

Fumos invisíveis, só pode.



São 22h22, a hora dos patos. O céu cobriu-se de negro numa pacata cidade do Sul, deste país arranhado pela história. Está na hora de escrever, até porque me dá aquele ataque de solidão quando me afasto da casa longe de Casa. Lá está, tenho a sensação que nos últimos 2 anos dormi em mais camas que no resto da vida. Ora um hotel perdido pelo caminho, ora uma casa de alguém, parece que já uso e abuso da minha nova condição...desapegado por tudo e por nada. Que mundo este, o meu.
Então voo sem ter asas, sentado numa qualquer poltrona de mais um avião, onde passo umas horas a recuperar o sono das manhãs de trabalho...e que trabalho. São horas, dias, meses de autêntica devoção elétrica ao que me traz por cá. Um emprego, uma carreira. Que mais? Um amor? Uma paixão assolapada pela minha pessoa e por um orgulho auto-estimável que me continua a fazer correr? Corro! Tanto! E já me canso, muito, até me doerem os joelhos de tanto pensar, stressar e decidir.
Mas ontem acordei feliz, não sei porquê. E hoje continuo. Dizem que exercitar o corpo quando a mente está ocupada cria enzimas de felicidade...se calhar é isso. Booh. Talvez os pesos matinais que teimo levantar ajudem...talvez. Mas deu nisto, ontem e hoje, não sei porquê. Oh imaginação! E sinto-me bem, sem saber de onde vem tamanha moléstia à solidão. Porque olho em volta e hoje estou só, abandonado numa terra que não é a minha, nem sequer é a terra onde vivo, não faz sentido. Porque sorrio? Mas sorrio, é mais forte que eu. Seria bom compreender...mas não.
Uma sensação alegre invade-me. Bem, quando é assim não me queixo, antes pelo contrário. Dedico largos minutos a gozar tal mordomia. É como se voasse, outra vez, mas desta vez em pé. Impossível. E penso. Será que alguém sente a minha falta? Estará ela a pensar em mim? Terei bebido a bebida dos Deuses? Nada faz grande sentido até porque estou cansado e preciso de férias, altura esta em que não me suporto...mas não. Oh que impertinência este contraste humano que só me faz rir. E não fumei nada, disso.
Não sei bem que mais pensar, ou que dizer. Por isso vou calar-me e vou rir para outro lado. Talvez dormir. Sim, vou dormir porque neste quarto de hotel a TV perdeu o sinal e valha-me a internet partilhada pelo meu Note. Senão nem escrevia.
O silêncio já vai alto e a hora não faz barulho. B'noite.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Maybe lost, maybe not.


Slowly fading after days of no rest. What else could it be? The age of a long-time walker? No! That'd make you an old man. Counting all the secrets and having them burned, oh what piles of books awaiting its turn. Nothing is as it was, or used to be, or how even you'd see it. Maybe you're the one who grew...never thought.
I see you lonely, every night, every day. And recovering from a night of pleasure has lost its spark. You shine differently, you see? But yet your eyes look away. You avoid the confrontation of the who you came to be...you, all over again. Look at what you've done, where you've been, how you've loved. Power over your own existence. 
You ain't lost...not yet. But those little affairs get you tired. Maybe more tired than before, and you're scared. Scared of walls, of the future, of the present and dogs and wales. You lost that freedom, I see it now. Stuck in a moment. Afraid to lose it all, again and again.
Time to face north, to engage on all that's left. Time to feel that feeling. You can still come back.


domingo, 1 de junho de 2014

Delírios, clarividências e venenos aerotransportados


Desculpa, mas estava na hora de mexer nas raízes. Havia um tsunami escondido por detrás de um vulcão esbaforido. E dores internas que lutavam contra um presente sem forma. Isso! Apesar de tudo, tinha de me perder. Lancei-te um último olhar transparente, meio de lado porque queria ser forte, que não me castigavas. Que erros inocentes de um sonhador sem testo. Então perdi-me, talvez...de vez.
Logo dei conta do desespero antipático de um beijo que aí ficou. E que mais responder senão correr em direcções opostas, por um deserto de gente igual? É que todos nós, aqui, fugimos de momentos antigos! Aqui, muda-se a página, nada é porque sim. Difíceis abraços a cactos depenados. Invejas gloriosas que já não o são. E segredos amarfanhados nos bolsos de ganga. É tudo tão falso, mas tão verdadeiro. Qual dualidade de quem vive aqui e aí. Tão sós.
Fazemos tudo por tudo para vos transmitir alegria. Afinal, sem ela não vivemos! E procura-mo-la incessantemente por detrás do Gim especial, de uma dança que nem importa ou de um qualquer encontro fortuito de olhares estranhos. Gritamos bem alto os sons que ouvimos, como anestesia cerebral às saudades que teimamos arrumar.
Aqui estruturam-se os minutos, sabes? E a cada um pertence cada coisa! Defendes-te como podes...porque aprendes que sobreviver ganha sabor a manga. Cada dia é um dia, mais um, aqui. Sabes que pode ser hoje, ou amanhã, o princípio do teu fim, ou o fim do teu princípio. É real! Mas até isso aprendemos a cobrir com histórias nocturnas e fotos de um paraíso azul.

Então perdi-me! Tenho paredes à minha volta e caixas de nomes estranhos que abro a horas certas. Resguardo-me num sofá outrora meu e procuro uma paz podre por entre minutos de delírio. Isto mata, sabes? E dói! Nunca pensei...ou por outra, sempre ignorei. Agora sei, agora...tarde demais. Foi como perder-te. Olhei-te de lado e quis contemplar um deserto sem o teu aroma. Foi aí que me perdi. E perdido luto contra o veneno aerotransportado que a minha história não quis deixar de (também) escrever. É tão difícil! É de uma merda impossível que destruiu a minha relação com o móvel onde me deito todas as noites. Oh cama, outrora namorada de momentos a dois, viraste palco de delírios, bar de noites embriagadas, refúgio de gemidos atordoados. Agora nem de ti me aproximo.

Faço, então, por contemplar um futuro tipo cena de um romance qualquer. Há-de acabar bem! Afinal, a Esperança é a última a morrer e, nesse caso, hei-de ir eu primeiro...mas peço-lhe boleia. Ou trago-lhe o gato, após um pequeno-almoço na joelharia da esquina..pode ser que me beije, então.