quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Rir é obrigatório, ou nem por isso. (sátira às obrigações)



Dei comigo a analisar os meus próprios pensamentos e reacções. Como se uma terceira pessoa, qual espectador de um filme daqueles parados em que as conversas nos prendem ao sofá, analisasse as minhas conversas com os outros.
Há que forçar, ainda que não muito, para ser minimamente engraçado. As gargalhadas são atractivas, atraentes, sensuais, e todos nós nos sentimos gravitados pelos demais quando temos piada. Ou não, está bem, há quem prefira passar despercebido.
No entanto hoje, salvo as tais raras excepções de almas menos brilhantes, parece que nos vemos forçados a rir a bandeiras despregadas para que os momentos sejam conotados de um rasgado "gostei".
Também é normal, certo! Todos queremos passar um bom bocado....a rir. Sinónimo? Será...obrigatório?
Então somos traduzidos em linguagem piadética, analisados pelo que faz cócegas à mente.
Tipo, quase ninguém gosta de uma música triste porque lembra-nos episódios tristes, tipo Romeu e Julieta de um Shakespeare à beira do precipício. Então pomos música alegre, um sorriso forçado e fazemos um esforço para nos lembrarmos daquela anedota brutal que ouvimos uns dias antes.
Não digo isto como uma crítica aos maus hábitos criados pela necessidade atroz de ultrapassar as dificuldades da vida moderna. Não, nada disso, até porque há quem seja sorridente ad eternum. Espíritos livres ou libertos cujas fazes negras começam e acabam entre o despertador e o primeiro café.
Sei que estou a generalizar o individualismo, se assim o posso dizer. Mas quem passa um dia cinzento sem razão aparente e ainda que em boas companhias, perde o passo. Fica para trás. Torna-se transparente. Isto porque, das duas uma, ou tem um problema grave que facilmente dá luz ao interesse dos circundantes, ou então reprova. E ouve um igualmente transparente "queres falar"? Ou um "deixa-te disso" como se se tratasse de uma doença infecto-contagiosa qualquer.
Há, e quando digo é no sentido obrigatório da coisa, que ser intermédio, nem tanto ao mar nem tanto à terra. Torna-se quase mandatório ser engraçado, sem cair em desgraça! E quem não for, fosse!



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