quarta-feira, 9 de março de 2011

Perder...é uma balança

O último par de óculos de sol que perdi simboliza o estado das coisas. Saí de casa de manhã para "dar uma mão" a quem dela precisava e como o sol raiava desde cedo, eis que deles faria uso. Uma volta de carro, um cumprimento acelerado e encontrava-me perante terceiros a resolver problemas de segundos. O primeiro, esse, fica para último. Fixei o pensamento na "mão" a dar e BUM, (des)fixei o olhar nos óculos. Perdi-os.
Perdi-os, perdi-te, continuo a perder-te! Engraçado é pensar no simples momento em que realmente fui possuidor. Agora, as imagens parecem-me desfocadas. Parecem parte de um qualquer sonho apressado antes do despertador rasgar a liberdade da inconsciência. Penso em duvidar... Sim! De facto penso em duvidar se algum dia estas imagens foram reais. Nelas beijava-te durante horas, nelas conduzia de óculos postos ao som de músicas cantadas por terceiros. Estranho! Agora quem as canta sou eu. No entanto, nessa altura ouvia-as contigo...hoje canto-as sem ti, canto-as de olhos bem fechados porque o sol me ofusca o horizonte.
Por mais que queira, por mais que procure raciocinar, perco-me em memórias soltas de momentos perfeitos. Oh sim! Perfeitos! Perfeitos! Não poderei nunca parar de o dizer... Perfeitos! Porque os sonhos comandam a vida.
Arde-me a pele com intensidade! Sou palco de milhões de minúsculas explosões de emoção. Agrido as paredes que me rodeiam porque cedo à tortura de recordar. Por apenas um momento de uma prolongada existência fui capaz de ser feliz! Porque ser feliz não é sinónimo de estar completo, de ser inteiro. Nunca me completaram, nem tu nem os óculos, nem elas nem ninguém! Completo já era, mas existe mais, muito mais que apenas eu.
Nasci com Ela mas cedo partiu... Procurei substituir a perda com a personificação da Mentira e até esta me deixou (vivi-a tempo demais, também, mea culpa). Depois? O tempo, a vida, o deslindar de abruptos momentos, levaram-me a ti...
Questiono a minha própria personagem sobre razões de viver. Razões de perder e ganhar. Porquê saborear o que depressa é engolido? Momento curtos, momentos de sonho, momentos! Porque cruzaste o meu caminho? Olho para tudo e para todos e valorizo a incongruência de te ter tido. Porquê? Para que a "nossa" existência passasse que nem uma fracção do bater de uma porta? E ainda assim..conto pelos dedos os dias que passámos abraçados. Uma hora reflectia a intensidade de um ano, qual espelho eterno, sem fim.
Construíste caminhos eternos que percorro cada dia, caminhos de granito estampados em jardins de lírios... Esforço-me por saltar de pedra em pedra e tropeço a cada pensamento. Perdi-te, mas porque salto?
Alcanço sonhos paralelos, sonhos necessários, sonhos que me agridem a passada. Por eles espero e por eles continuo a correr. Por ti nada faço, não posso, perdi-te! Um simples aceno e o dia seria perfeito.
Estendo os braços e sinto o fervor de uma existência voraz! Alcanço objectivos incomuns, sou senhor do meu tempo e dele disponho como ninguém! Grito ao ar que respiro e nele faço entoar a voz que tanto tempo fiz por ouvir. Atingi o mais intimo dos meus desejos de sempre. Seguem-me os meus valores e seguidores. Sou dono de outro ser e esta ama-me. Mas a ti, fonte de criação de puro amor, perdi-te! Acredita, perdi-te!
O som da guitarra acalma-me a alma e o bater dos pratos ensina-me a viver. De olhos abertos reajo ao bater das palmas de um público que não conheço, mas que me ouve e sorri. Um novo conceito de absorver sentimentos estende-se perante mim.

Sem comentários:

Enviar um comentário