domingo, 20 de março de 2011

Vamos fingir...

Vamos fingir...
Que  vivi parte de um filme, parte de um enceno frágil cujo fim anunciado derramou lágrimas na plateia. Fingir que a dor que me causaram, não foi mais que um aceno falso de uma outra personagem.
Vamos fingir que a traição, repetida, seguia apenas um guião escrito por quem, de verdade, sofreu. Que o céu não desmoronou e as estrelas ali estão.
Vamos fingir...
Que quem me jurou eternidade, num momento de dor profunda, de desalento, não me abandonou. Que isso, nada mais foi que um sonho...um pesadelo. Vamos fingir que apesar de cravado de balas, não fui atacado pela maldade de quem vive só por si. Vamos fingir... Que depois de tudo ter dado, nada mais me foi tirado. Que não me restou que não o espírito e, de repente, órfão do mundo fiquei.
Vamos fingir...
Que as promessas foram cumpridas, os beijos verdadeiros e as lutas com sentido. Vamos fingir! Que o amor que me ofereceram era eterno...incondicional.

Vamos fingir...
Que a vida não seguiu. Que o mar distante a ti não me levou, vizinha sem saber. Vamos fingir...que o calor do paraíso não me alertou para o teu olhar. Que as palavras trocadas, durante horas, durante noites, nada disseram e com o vento partiram. Que não sucumbi ao teu fervor. Vamos fingir! Que no presente morreram as memórias e com elas o sentimento...
Vamos fingir...
Que ainda aí estás! Que o teu coração ainda sente e a tua mão no vidro toca quando a minha se ergue. Vamos fingir que a coragem te deu forças, que combateste as incertezas e em mim depositaste a vontade! Que em mim acreditaste e não fugiste. Que a minha calma não te levou a duvidar.
Vamos fingir...
Que fiquei parte da tua margem e do teu caminho. E que devagar avançarei em direcção a ti... Vamos fingir! Que na praia, sentada, me aguardarás com o teu sorriso, qual sol nascente que ilumina o universo.

Vamos fingir...
Que os fortes em mim não depositaram as suas forças. Que a amizade dos verdadeiros cavaleiros e princesas a mim não se estendeu. Vamos fingir que o desespero da solidão me perseguiu e sozinho tive de caminhar. Que quem me viu, estendido no passeio, esfomeado de razões, não me agarrou e abraçou. Que nesta guerra não tive um exército que comigo batalhou e venceu!
Vamos fingir...
Que a vida não me sorriu e a certeza me abandonou. Que um novo mundo de mim escapou, cheio de cor, sonhos e amores.

Mas fingir! Só a fingir!
Porque mais, muito mais que um filme a vida foi! Porque apesar das lágrimas da plateia, que de pé me saudou, o fim não chegou. Porque a dor foi mais intensa que a morte. A traição foi real, repetida e repetida...repetida e repetida! Porque as estrelas partiram...até voltarem, um dia.
A fingir...
Porque o eterno juramento depressa terminou e o pesadelo foi real. A maldade perseguiu-me até tocar o espírito...com egoísmo, tanto... Porque tudo perdi e, desamparado, ali fiquei.
A fingir...
Porque as promessas se perderam e o beijos, esses, foram mentiras.

Só fingir...
Pois a vida para a frente partiu. E em terras distantes o vento soprou. Com leves contornos os teus olhos em mim se fixaram. Vamos só fingir...porque o tempo eternizou as palavras e o sentimento nunca, nunca, me abandonou!
A fingir...
Porque partiste demasiado cedo. A tua mão deixou de se erguer e as tuas forças deixaram de combater. Porque a minha calma te assustou...
A fingir...
Porque a praia está deserta. As ondas para trás me puxam e o mar quer-me para ele.

Só fingir...
Porque a força dos que lutam arrancou-me do chão! Conheci a amizade dos meus pares e sozinho nunca caminhei. Porque me abraçaram e comigo lutaram com exércitos de milhões!
A fingir...
Porque o mundo me sorriu! E a cor das certezas deu-me sonhos...e amores!

Vamos fingir...mas só fingir!
Porque daqui parti e aqui cheguei! Sou peça de um mundo melhor, muito melhor...porque nunca, nunca fingi!

Sem comentários:

Enviar um comentário