O som ecoa mais alto, ao longo de pequenos passos sinto as vozes mais próximas. Gente que canta, grita e me querem dizer algo. Pelo caminho largo, escuro como breu, dou passos largos e sinto o coração ofegante que me pede para parar...parei. Olho em volta e agora apenas uma voz me canta. Quem és? Que língua falas? Nao te reconheço! Porque cantas para mim? Ou...não é para mim? Porque cantas?
Agora corro em pequenas pedras que me magoam os dedos dos pés...que ironia, a de correr por um (des)objectivo. Eis que me encontro numa sala enorme...qual palácio de contos de reis e rainhas. Olham-me com desdém, como se de um estranho viajante eu não passasse. Mas no centro está uma taça esbranquiçada. Será que a posso tocar? Está nas minhas mãos...e agora todos me sorriem, carrego um tesouro de um mundo maior. Passo a pertencer!
Com lágrimas nos olhos grito pela consciência, mas o som não ecoa, não me ouço. Estou a cair de uma varanda de fumo. Agora recordo...toquei-te os cabelos e por isso estou aqui. Num mundo perdido sem eira nem beira. Falta-me tudo pois nada compreendo. Foi assim tão grave vender-te aos meus ideais? Deixar-te levar pelo meu respirar? ...porque me gritam os demais? Cantam "Carmina Burana" como se de um concerto a vida não passasse. Fá-los parar! Agora suspiram-me ao ouvido...não, não os compreendo. Falam línguas distantes e ecoam instrumentos que me levam aos céus. Tocam trompetas como se o rei chegasse.
Mas sim, sim...agora relembro. És Linda...pedi-te um beijo e ao invés mostraste-me homens antigos que gritam mais alto que as nuvens...também eles aqui estiveram? Não! Apenas eu...agora sei. Porque a minha voz eu não ouço e as deles cantam melodias falsas.
Como se dança a tua valsa? É assim? Olha-me! Porque estou agora numa montanha de areia? Porque sinto o calor mais quente da minha existência? Desapareceram todos...mas tu não! Porquê? Olha...calaram-se.
Amar-te foi...um pequeno dia. Ao vento subi a cidade com a tua imagem no coração...e depois apareceste. Deixaste-os e ao meu lado ficaste. Agora sei porque ouço vozes...aqui. Porque num concerto ouvi o teu sorriso. E com o carinho de uma mãe preocupada desejaste-me boa viagem...juizinho. Desde aí não voltaste...
Enviaste-me para onde estou, num sono profundo, num sonho que corre e canta...onde não quero estar! Agora é uma sereia que canta...e este marinheiro reconhece o perigo. Mas para o fundo do mar irei, se entre a espada e a onda ficar. Sem ti tudo faz sentido, mas contigo o sentido faz-me acordar.
Vou serrar os olhos e esperar...quem sonha, quem sabe, quem quer...pelo suspiro doce e quente que outrora pensei querer. Ainda?
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