quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

despojos rasgados



Faço as contas aos segundos, antevejo os processos, negras vontades e destinos assombrosos. Caóticas mentalidades dos sofredores nos cantos de edifícios decadentes. Oh gélidas vontades que me têm cativo.
O abraço de uma desconhecida cheira a gelado de baunilha, cansáveis memórias de uma infância inerte. Que lindas são as flores deste jardim de árvores gigantes. E gigantes são as passagens, quais adamastores bem vestidos ao som de músicas sádicas.

Não. Cedem-se encantos quentes. E os comandos de ares rarefeitos importam aos outros. Redes humildes afastam os bicudos, aqueles que matam. Tortas mal feitas, caminhos putrefactos com pés descalços. E o sol...poderoso mas sem cor. Cantam-se gritos, ouvem-se mórbidas frases. Corações arrebatados por mãos indignas. Vale-nos oh grande imagem de quem nos fez, torna as passadas picantes em areias saudáveis, faz do pecado o mau e do amor a saudade.

Queria saber quem sou, aqui e ali, quem fui. Mas ao encanto de quem veste de branco sob o riso de um santo, não posso ceder. Porquê? Porque vesti de negro os aventais. Pintei de roxo os brincos de areia e livrei os olhos de lágrimas. Perdi a sensação de cair. E esta gravidade invertida, comete crimes, aos poucos...aos muitos, ás vezes. Torna-te claro, oh sentido de som, que o espírito cansado está só e de lado e não pode cantar.

De braços abertos, cantas aos santos dos céus. Mas os blocos de pedra ofuscam mentalidades perversas. E a criança riposta com choros sumidos no colo das mães perdidas. E ele já não sabe mais. São poucos os anos de caminho (des)ofuscado...ainda. Pétalas de rosa esmagadas pelas pegadas de outrem. Liberdade falsa, liberdade atingida pela expulsão de um lar. Liberdade...incompleta.


terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Segredos, não o são...



Segredos, não são que mentiras ocultas.
Segredos, contados a quem não os quer.
Dúvidas eternas e doces multas
e obras sem fim para quem os quiser.

Pedras lisas em águas quentes,
lançadas bem longe, ao fundo do rio.
Sentimentos doridos de tantas gentes, 
pescados por tristes p'la ponta de um fio.

Segredos ocultos por quem os disser,
mas vozes bem altas de quem os ouviu.
Na esquina dos passos, resiste quem quer
e traições aparte de quem não (as)sumiu.

Às tantas, 
surpresas saltitantes de caixas de cartão,
palhaços pintados, qual acordeão.
Fui ponte de morte sobre quem amou
e de sorriso estendido, eu abri a mão.
Pelo desgaste da alma, de quem eu não sou.

Verdades ocultas, segredos, degredos.
Finos mal tirados, mortos, sem espuma.
Abriram-se portas a tantos medos,
ficaram perdidos, com dores agudas, na ponta dos dedos.

Segredos, não o são jamais.
Porque os sons da batalha traduzem ditados
e reduzem a nada promessas vitais.
Dão aos homens bons, sentimentos violados.
E traduzem acções dos que são mal amados.

Segredos, (já) não o são...



quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

A Pandora de um Astronauta



Sou astronauta...e para quem me quer ouvir, sou astronauta! Mesmo que a lua se mantenha distante, vou e venho. E por lá me mantenho o tempo que quero. Há silêncio, o silêncio dos bons. O silêncio de quem ouve e nada diz...não há ar para falar. E então sorrio...liberdade.
Ali os aliens não têm figura. Mesmo aqueles que me incomodam.
Não tenho amarras, não posso...já não sei lidar com elas. Falo a verdade! Vivo agarrado à vaga liberdade que me deixa ser assim, um astronauta sorridente. Ali não há vento que me empurre, ou noite ou dia que me lembrem de ontem. 
O tempo é inconsequente e consigo manter-me inerte. Sou simples espectador do filme "lá de baixo". 
Ali não há escolhas nem obrigações a considerar. É um canto sóbrio e ao mesmo tempo embriagado. Ali, não preciso optar, por uns ou por outros, por uma ou por outra, pelo sim ou pelo não...porque não quero. 
Sou astronauta e ali me deixo envolver pela Liberdade.
Sou astronauta, sou egoísta. Sofro do mal dos que escolhem não escolher, senão viver...sorrir e respirar. Porque ali, o astronauta não tem ar...mas respira a falta dele.
E nisto sinto a solidão que me envolve ao acordar, mas que dá sentido ao descolar para cada viagem. Porque deixei de pertencer...que não às estrelas.
E o astronauta vagueia entre elas, as estrelas, que o acompanham e não têm inveja...umas das outras...estão ali. E entre elas passeio, não sou de nenhuma, sou de todas.
Olho a terra, de longe. Sinto saudades dos dias de sol quando os pés sentiam aquela areia...verdadeira. Das noites gélidas em que, de cachecol, abraçava a chuva miudinha pela primeira vez. E nesses momentos sonhava ser...astronauta.
Um dia, voltarei aos pés descalços, voltarei a abraçar a chuva. E seguirei o sorriso de quem canta. De quem entende o eterno astronauta, qual Caixa de Pandora por abrir. Porque sou astronauta...



sábado, 2 de fevereiro de 2013

Partido(s)


...e porque há dias em que nos sentimos miseráveis, restam palavras memorizadas em textos azuis. É verdade! Azuis como os sentimentos pecaminosos que atravessam e contradizem os valores das mentes.
Acordem, apetece-me gritar...mas acordar é assim tão bom? Ver tudo claramente e desatinar ao desatino. Vale pouco! Não sei porquê, mas apetece-me respirar acordado, ainda que esta realidade seja solitária...que tanto odeio!
Olhei para o lado, e arrependi-me, mas também não. Estarei louco? Partido? Talvez partido...sim, talvez. Mas não quero conversar nem falar disso porque não tenho respostas.
Os ventos levam-me as vontades. E então só me apetece ficar a olhar. 
Desculpem lá, mas deixei de aturar o que quer que seja. Pois...os partidos são assim, como que partidos.
E o vermelho que me corre nas veias decidiu evitar o centro. Seco, este vislumbra-me quando estou só. E relembra-me que, noutros tempos, por ali passavam lavas incandescentes que interrompiam os raciocínios. Que saudades das certezas erradas e do som brilhante do partir de um coração.