Em horas como aquelas, em que tudo parece possível, esqueço-me do passado. Parecem não mais que lendas contadas por um velho tonto qualquer. Tornam-se não mais que sombras de uma história vivida num livro para adolescentes.
Lembro-me pouco do tempo ou das horas, muitas, entre cada ver e não ver. Esses intervalos não contavam assim tanto, era como se tudo se resumisse a estar ali, naqueles momentos plenos de surpresas, fossem elas boas ou más.
Ali, esqueço-me das mentiras contadas ou das traições de gente malvada. Essas soam, ali, a espaços em branco. E por isso, deixo-me ir.
Procuro desenfreadamente um toque, um odor quente de Inverno ou uma brisa fresca de verão, no encostar de uma mão na outra. Nada mais conta que a sensação daqueles instantes. Passo a acreditar, de novo, que o universo faz sentido e nada acontece sem um propósito que ali me levou.
Lá, olho para as nuvens. Encontro nelas uma canção ou um desejo ardente.
Mas o desengano, de forma usualmente violenta, derruba-me o olhar. Deixa-me tonto, um louco embriagado que se martiriza por chegar ali. Uma insustentável leveza deita-me, de novo, por terra. Ou senta-me numa poltrona, ainda que nova e feita de ouro, que me recebe a cada queda. Mais uma e outra e outra.
Então, sim então, apercebo-me que não vale a pena olhar as nuvens. E não o digo de forma esbaforida ou sequer vingativa. Digo-o com a maior das ternuras porque já ali passei e cheira a um chegar a casa após nova viagem. Mas, é certo, não vale a pena olhar as nuvens.
Nada tem a ver comigo, em essência. Sou um crente inveterado, um romântico fanático pelas histórias que sonho. No entanto e sem planos, deixo o desgaste de uma idade vivida, tomar conta deste crescimento mais seco, ou frio. Perco, por permissão mas perco, a vontade de saber voar, nas mãos de uma nuvem qualquer. E deixo-me levar por uma descrença que já me afaga os sonhos à noite e que me impede de olhar para o alto, porque de facto tal sentido não existe.
Abstenho-me de emoções ardentes ou de olhares mais periclitantes. Sinto que cada vez mais me torno imune.
Para quê, então, olhar as nuvens? Já não faz sentido. Talvez o que eu queira seja, apenas, impossível.
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