segunda-feira, 2 de julho de 2012

Madrid...e eu.



Espreguiçado em lençóis de hotel, como quem dorme sobre nuvens de algodão, fui chamado pelo toque suave e bem escolhido do aparelho que me persegue enquanto trabalho, enquanto caminho e enquanto amo. Eram horas de recolher às azafamadas corridas de papel... Era tempo de exercer a força sobre as pernas que me carregariam até ali chegar, de novo, para sonhar.

Como morangos pela madrugada, saboreei o abrir automático das cortinas. A entrada de um sol estonteante vertia champanhe no chão de mármore da "habitación", refrescando-me a planta dos pés enquanto caminhava já, devagar, até à bacia de mel em que me banhava minutos depois. Conheces aqueles dias, secos, graves, sensuais, dias em que a luz te cega as ideias? Aqui é fácil senti-los...oh odes ao deserto que após banhado pela realidade te deita em areias circundantes. A cidade está aí no meio e o vento faz-se sentir no meio da multidão.

Olhei as portas pelo meio e retirei as vestes de mais um dia por terras de Aqui d'El Rey. Como numa cena de um filme do Bond, James Bond, rolei pelos lençóis até ao terraço e, rodeado pela sensação de quem é observado, queimei um companheiro de momentos sós, Camel...que aqui também há! Um vazio preenche estes momentos, antes do ataque a mais um dia de corridas aéreas e não só...há que fazer voar o mundo! 
Não tenho escolha, desço os degraus que neste palácio de um beije claro me convidam ao manjar de quem cedo madruga. São delícias espalhadas pelos quatro cantos do salão. O céu ilumina estes prazeres...e o sol já queima.

Em estofos de veludo encaminho-me pelas estradas cheias de concorrentes. Eu, como eles, aproveito esta pausa para sentir nos ouvidos aquele som cristalino que me transporta a casa, a momentos, a vidas.
De olhos serrados entro no coração da minha vivência por cá, onde me chamam Joel, Juan, Joáo, compañero,...e eu respondo...buenos días campeones!!! Com sorrisos merecidos, sou cortejado até ao meu posto, onde delego tarefas, encaminho ordens e, como se de uma fábula se tratasse, levo gente a voar. Voar, voar... E por vezes também eu sou alvo das minhas ordens e voo até às nuvens, onde me sinto em casa...casa.
Antes de nova pausa, encontro razões que me levam ao palco dos sonhos de alguns, tragédias de outros, choros de alegria e de tristeza. Local onde as mensagens são de amor, de amizade, de esperança...está espelhado na cara de todos...é lindo de ver! Daqui partem mentes que voam...e é onde chegam carregadas de histórias, minhas e tuas e deles. Aqui já me conhecem e sorriem ao ver-me passar. Oferecem-me pausas para café, qual bebida de Deuses por terra. Acordam-me com vontades. Por vezes sou convidado a voar. Convidado... Noutros tempos parecia tão longe...hoje não. Querem levar-me a terras distantes, mostrar-me o que ainda não vi. Chego a recusar, que loucura, mas sim, porque na terra precisam de mim...para que outros sigam...
Aqui? A noite não cai! Os jantares deste mundo são feitos ao sol poente...agora! Custa crer que o mundo gira. E a terra é quente, à noite, quando a lua teima em subir apesar do sol reclamar. 
Nas esplanadas, terraços, ao som envolvente de guitarras clássicas, servem-se líquidos frescos on the rocks, tipo filme de primeira...ao meu lado vejo a Vicky e ao seu a  Christina, qual rival Barcelona...
A escuridão da teimosa noite faz-se sentir, mas não pelo quente ou pelo frio, mas pela luz diferente. Soa a águas transparentes num oceano profundo.
Está então na hora de chegar a casa...a casa...num mundo de outros, onde encontro o meu. O meu refúgio entre tantos outros, onde sou atingido por holas e sorrisos de quem se habituou a ver-me ali.
E então encho o mármore do chão com vestes do dia, espalho-as pelos cantos onde vivo...aqui. Não me importo! Porque quando o sol nascer, um fantasma invisível virá desarrumar a minha montagem...qual amiga invisível que me segue os passos e na minha ausência, desfruta do meu espaço.
Debaixo de água, no refrescar desta história, relembro as minhas tarefas, os meus caminhos e as minhas saudades... Depressa decido se a escrita é esta...ou outra. E aqui estou, onde com sons calmos e carinhosos deposito a alma e a memória...aqui neste espaço, no Meu, Vosso...outer space.
Agora vou fechar os olhos e sonhar, comigo e contigo...e convosco. Até amanhã...vou voar por aí.


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